É uma infecção do liquido livre no abdômen, chamado de ascite, em pacientes com cirrose, na ausência de outro foco de infecção intra-abdominal.
A causa mais comum de peritonite é a infecção do líquido em pacientes com cirrose. Esta infecção é devido à passagem da bactérias do interior do intestino para a circulação sanguínea e consequentemente, infecção do líquido ascítico. As bactérias mais comumente envolvidas são as gram negativas, sendo a mais comum a Escherichia coli. Dentre outras bactérias, destacam-se Streptococcus viridans, Staphylococcus aureus e Enterococcus fecalis.
O principal fator de risco é a cirrose. Pacientes com cirrose podem desenvolver ascite pela progressão da doença, ou por outros fatores precipitantes, como dieta com muito sal, consumo de álcool, infecção, uso de medicações como anti-inflamatórios não hormonais, e o não uso de diuréticos que podem ter sido recomendados. Outros fatores de risco de aparecimento de ascite é a trombose da veia porta e o aparecimento de um tumor no fígado, o hepatocarcinoma.
A incidência de peritonite bacteriana em pacientes cirróticos internados chega a 20%.
O paciente se apresenta com ascite, com o aumento do volume do abdômen, concomitante à febre, calafrios, dor abdominal e encefalopatia. Outros sinais e sintomas de cirrose podem estar concomitantes, como anorexia, emagrecimento pela perda da massa muscular, fraqueza, hemorragia digestiva por varizes de esôfago ou estômago, aranhas vasculares, eritema palmar, esplenomegalia, icterícia, circulação colateral na cicatriz umbilical chamada de cabeça de medusa, falta de ar pela presença de derrame pleural (líquido ao redor dos pulmões), e edema nos membros inferiores.
O diagnóstico é através do exame clinico, de exames de sangue e radiológicos.
Punção do Líquido Ascítico: Este procedimento é chamado de paracentese. O líquido ascítico não infectado tem coloração amarelada, transparente. O líquido ascítico, quando puncionado, deve ser enviado para análise de contagem de células, cultura, albumina, proteína total, glicose e LDH, entre outros. A contagem das células pode determinar se há peritonite bacteriana. Contagem de leucócitos > 500 com predominância de polimorfonuclear geralmente indicam infecção.
Pacientes com ascite por cirrose possuem risco aumentado de infecções, insuficiência renal, e menor sobrevida. Aproximadamente 50% dos pacientes com ascite por cirrose vão à óbito em 2 anos, se não tratados. Pacientes com ascite podem apresentar infecção deste líquido, processo chamado de peritonite bacterina espontânea.
Pacientes com peritonite bacteriana espontânea devem ser internados e iniciado antibióticos endovenosos. O mais comum é usar cefalosporinas, como ceftriaxona, cefotaxima e cefepime. O resultado da cultura do líquido ascítico pode determinar qual o melhor antibiótico a ser utilizado. Muitos pacientes necessitam o uso de diuréticos (ex. furosemida e aldaconte), restrição de sal na dieta, infusão de albumina, concomitante ao uso de antibióticos.
Aproximadamente 90% dos pacientes têm melhora clínica e laboratorial como o uso de antibióticos, porém a mortalidade chega até 30%, pois estes pacientes possuem outras complicações da cirrose, como sangramento por varizes de esôfago, insuficiência renal e encefalopatia hepática. Aproximadamente 70% dos pacientes voltam a ter peritonite espontânea dentro de um ano.
Alguns cirróticos possuem benefício com a utilização de antibióticos profiláticos, como em casos de peritonite bacteriana prévia ou casos de hemorragia digestiva alta por varizes de esôfago. Quando indicado a profilaxia, utiliza-se uma quinolona, como a norfloxacina.