O fígado recebe sangue através de dois vasos sanguíneos, a artéria hepática (20 a 25%) e a veia porta (75 a 80%). O sangue que circula pela artéria hepática vem indiretamente do coração, trazendo os nutrientes e a oxigenação para o fígado. O sangue da veia porta é proveniente do intestino, pâncreas e do baço, levando todos os produtos que são absorvidos pelo intestino. Após o sangue passar pelas células do fígado, o sangue sai do mesmo através das veias hepáticas, desemboca na veia cava, e leva o sangue para o coração.
A trombose da veia porta faz com que o sangue acumule no sistema porta, ou seja, intestino e no baço. O aumento de pressão nestes locais leva a um aumento do baço, e surgimento de veias colaterais, que tentam fazer com o que o sangue chegue ao coração por outros caminhos. Estas veias colaterais aumentam de tamanho, e são encontradas na junção entre o esôfago e o estômago (varizes de esôfago), no ligamento falciforme (veia umbilical), no retroperitônio, e no reto e canal anal (hemorroidas).
A causa depende da idade do paciente. Em adultos, 25% dos casos estão associados à cirrose. Outras causas incluem cirurgia abdominal, doenças pancreáticas, infecção intra-abdominal como diverticulite e apendicite, e pacientes com hipercoagulabilidade (síndrome antifosfolípide, hemoglobinúria paroxística noturna, deficiência de antitrombina III, proteína S e proteína C, mutação do fator V de Leiden, policitemia, gravidez, e certos cânceres, como de fígado, rim, pâncreas e adrenal).
Em crianças, a causa mais comum é uma inflamação da veia porta. Uma doença infecciosa pode ser diagnosticada em até 40% dos casos. Em recém-nascidos, a causa mais comum é uma infecção no cordão umbilical. Porém, muitas vezes não se descobre a causa.
Infecções, hipercoagulabilidade e uso de anticoncepcional.
A incidência é de aproximadamente 0,7 casos para cada 100.000 habitantes.
A maioria das vezes a trombose aguda é assintomática. Os pacientes são diagnosticados geralmente quando apresentam desconforto abdominal, ascite leve a moderada, com esplenomegalia e varizes de esôfago. Ou seja, sinais de hipertensão (aumento da pressão) do sistema porta. A manifestação clínica mais comum é o aparecimento de varizes de esôfago.
Exames de Sangue: Na trombose de veia porta aguda, os níveis de TGO e TGO podem estar elevados, mas a maioria dos pacientes são assintomáticos. Na forma crônica, geralmente os níveis de TGO, TGO, bilirrubina, fosfatase alcalina e gamaglutamiltransferase (GGT), geralmente estão normais ou pouco elevados.
Ecografia: Pode suspeitar do diagnóstico da trombose da veia porta. É utilizada para descartar a presença de outras doenças. Pode demonstrar sinais de cirrose, mas não determina a causa da doença.
Ecodoppler: É uma ecografia que visualiza os vasos sanguíneos do fígado. O diagnóstico é feito na maioria dos casos. Pode visualizar trombos ou ausência de fluxo na veia porta, presença de circulação colateral, fluxo reverso (no sentido contrário) na esplênica e na veia mesentérica superior.
Tomografia e ou Ressonância: Quando realizados com contraste, visualizam a obstrução do fluxo da veia porta.
Biópsia do Fígado: Raramente indicada, podendo ser utilizada para avaliar a presença de outras doenças no fígado.
Endoscopia Digestiva Alta: É indicada para avaliar a presença de varizes de esôfago.
A trombose da veia porta pode ter resolução espontaneamente em algumas semanas. Em paciente em que a trombose aguda não se resolve, pode acontecer a transformação cavernomatosa da veia porta, que é caracterizada por novos vasos ao redor que levam sangue para o interior do fígado.
A complicação mais comum é sangramento de varizes de esôfago. Insuficiência hepática é incomum, pois o fígado geralmente mantém, uma boa função. Em crianças, a trombose de veia porta pode diminuir a velocidade de crescimento, e apresentar menor estatura, necessitando de acompanhamento.
Na trombose aguda, a maioria dos serviços fazem anticoagulação, desde que não haja contraindicação. Infelizmente, como a maioria dos pacientes são assintomáticos na fase aguda, o tratamento consiste no manejo das complicações. Endoscopia deve ser realizada para avaliar a presença de varizes de esôfago e iniciar o seu tratamento, com ligaduras elásticas ou medicações, como o propranolol.
Os pacientes devem ser avaliados se existe hipercoagulabilidade, e nestes, anticoagulantes podem ser utilizados. A trombólise com aspiração dos coágulos na fase aguda, através de acesso transparietohepático, é muito pouco utilizada. A cirurgia, nos casos crônicos, baseia-se na confecção de um shunt porto-sistêmico, ou seja, fazer com que o sangue que passa pelo sistema porta passe diretamente para a circulação sistêmica, diminuindo assim a pressão no sistema porta.
O prognóstico é variável, e depende da extensão da trombose, para dentro do fígado ou para os vasos intestinais (mesentéricos). Na ausência de cirrose e de trombose dos vasos intestinais concomitante (veia mesentérica), a sobrevida em 1, 5 e 10 anos é de 95, 89 e 81% respectivamente. Fatores que levam a um pior prognóstico são: idade avançada, presença de câncer, cirrose, trombose da veia mesentérica e ausência de infecção intra-abdominal.
Pacientes com hipercoagulabilidade conhecida podem ser tratados para diminuir a incidência de tromboses.